A primeira década do século 21 se tornou a era do veículo automotor no
Brasil. A frota nacional mais que dobrou, passando de 32 milhões em 2001
para quase 70 milhões no final do ano passado. O dado explica em grande
parte o crescimento no número absoluto de mortes no trânsito. “O
trânsito é um conjunto de engenharia, tecnologia e inteligência, e não
foi feito para machucar as pessoas. Mas já passou do ponto. Chegamos a
um limite intolerável.
O trânsito também possui os seus grupos de risco. Os jovens formam o
mais perceptível deles. De acordo com os dados do SUS, um em cada quatro
brasileiros mortos em acidentes de trânsito em 2010 tinha entre 20 e 29
anos de idade.
Outro grupo surgiu com o aumento da frota: também durante a década
passada, o número de motocicletas e motonetas nas ruas disparou,
passando de 4,5 milhões em 2001 para 18 milhões em outubro de 2011. Esse
tipo de veículo é responsável por 6 em cada 10 indenizações pagas pelo
DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos
Automotores de Vias Terrestres), embora represente apenas um quarto da
frota.
Educação
Os especialistas ouvidos pela reportagem são categóricos em
defender a prioridade para os programas de educação no trânsito, ao
mesmo tempo em que se mostram desenganados com a capacidade do poder
público em doutrinar o trânsito a partir de fiscalização. Investimentos
em estrutura e profissionais não soam críveis no curto ou médio prazo.
“No mundo inteiro, o fenômeno do automóvel ainda está sendo digerido.
Do ponto de vista antropológico, o carro chegou “ontem” na nossa vida –
há pouco mais de um século. Ele se tornou uma extensão do nosso corpo e
amplifica os defeitos da nossa formação. No Brasil, nos falta
consciência cidadã para lidar com isso”.
Legislação
A implantação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em 1998, é
vista como a pedra fundamental para a melhoria do trânsito no Brasil. A
carta de 20 capítulos e 324 artigos definiu normas para a engenharia de
tráfico, dividiu responsabilidade entre as esferas de poder, tipificou
infrações e estabeleceu punições. “O trânsito melhorou muito por existir
esse código, que é infinitamente superior à lei anterior”, compara
Mariano.
Alguns comportamentos se solidificaram a partir da lei, como o uso
do cinto de segurança para carros e do capacete para as motos. “Isso
ajudou a poupar muitas vidas. Não diminuiu a quantidade dos acidentes,
mas reduziu a gravidade das lesões".
O consumo do álcool segue sendo um ponto de resistência. A criação da
Lei Seca, em 2008, se mostrou impactante em um primeiro momento, mas
abrandada pela falta de fiscalização contínua.
Mais da metade das estradas brasileiras está em mau estado.
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