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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Seleta de projetos cativantes para vereadores incompetentes

Introdução

Não é de hoje que o exercício da vereança exige muita criatividade por parte dos excelentes edis, especialmente para não despertar maiores questionamentos dentro do respectivo curral eleitoral acerca da sua necessidade e utilidade. O vereador esperto deve somente aparecer, sobretudo para mostrar serviço e justificar o alto salário. E para tal, não há nada mais eficaz do que promover “debates” sobre projetos que tramitam no legislativo municipal.
Conhecedores que somos das mazelas da democracia latino-americana e da estupidez intrínseca do eleitorado brasileiro, apresentamos a seguinte seleta de projetos cativantes para vereadores incompetentes:
  1. PROIBIDO JOGAR LIXO NA LUA. Interessante projeto de duplo apelo moral: 1) trata-se de legítima preocupação ambiental, garantindo a preservação da lua para as gerações futuras; e 2) fomenta um discreto antiamericanismo, tão em voga, já que este povo é o único a enviar missões tripuladas ao aprazível satélite. Possível variação deste projeto: planeta Marte.
  2. REGULAMENTO DO USO DE LÍNGUAS ESTRANHAS. Pela liberdade de falar de modo incompreensível. Crentes e afins, repletos de espírito santo, sentir-se-ão honrados pela “inclusão social” de seus carismas nas cogitações públicas. Amém.
  3. ESTATUTO DAS ESTÁTUAS. As estátuas devem permanecer imóveis, obrigatoriamente, sob pena de multa e prisão. Nada mais justo, e o povo poderá exigir das estátuas aquilo que elas devem fazer.
  4. CASAS POPULARES MAL-ASSOMBRADAS. Pela “inclusão social” do além. Trata-se do fim dos pesadelos do fantasma sem-teto, desde que este venha a requerer o seu novo direito numa repartição pública competente.
  5. PARCELAMENTO DE OXIGÊNIO. Declaração de utilidade pública dos gases da atmosfera e distribuição igualitária de oxigênio para todos os narizes livres. O povo deve conhecer e exigir os seus direitos de respirar oxigênio.

Conclusão

Estes projetos, uma vez aprovados, serão leis que jamais poderão ser violadas, pois tal possibilidade é extremamente remota. Propaganda eficaz de impacto orçamentário zero. A satisfação popular é garantida embora a “contrapartida social” seja absolutamente nula. Mas e daí? Tais escrúpulos fogem dos propósitos deste artigo.

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