Introdução
Não é de hoje que o exercício da vereança exige muita
criatividade por parte dos excelentes edis, especialmente para não
despertar maiores questionamentos dentro do respectivo curral eleitoral
acerca da sua necessidade e utilidade. O vereador esperto deve somente
aparecer, sobretudo para mostrar serviço e justificar o alto salário. E
para tal, não há nada mais eficaz do que promover “debates” sobre
projetos que tramitam no legislativo municipal.
Conhecedores que somos das mazelas da democracia
latino-americana e da estupidez intrínseca do eleitorado brasileiro,
apresentamos a seguinte seleta de projetos cativantes para vereadores
incompetentes:
- PROIBIDO JOGAR LIXO NA LUA. Interessante projeto de duplo apelo moral: 1) trata-se de legítima preocupação ambiental, garantindo a preservação da lua para as gerações futuras; e 2) fomenta um discreto antiamericanismo, tão em voga, já que este povo é o único a enviar missões tripuladas ao aprazível satélite. Possível variação deste projeto: planeta Marte.
- REGULAMENTO DO USO DE LÍNGUAS ESTRANHAS. Pela liberdade de falar de modo incompreensível. Crentes e afins, repletos de espírito santo, sentir-se-ão honrados pela “inclusão social” de seus carismas nas cogitações públicas. Amém.
- ESTATUTO DAS ESTÁTUAS. As estátuas devem permanecer imóveis, obrigatoriamente, sob pena de multa e prisão. Nada mais justo, e o povo poderá exigir das estátuas aquilo que elas devem fazer.
- CASAS POPULARES MAL-ASSOMBRADAS. Pela “inclusão social” do além. Trata-se do fim dos pesadelos do fantasma sem-teto, desde que este venha a requerer o seu novo direito numa repartição pública competente.
- PARCELAMENTO DE OXIGÊNIO. Declaração de utilidade pública dos gases da atmosfera e distribuição igualitária de oxigênio para todos os narizes livres. O povo deve conhecer e exigir os seus direitos de respirar oxigênio.
Conclusão
Estes projetos, uma vez aprovados, serão leis que jamais
poderão ser violadas, pois tal possibilidade é extremamente remota.
Propaganda eficaz de impacto orçamentário zero. A satisfação popular é
garantida embora a “contrapartida social” seja absolutamente nula. Mas e
daí? Tais escrúpulos fogem dos propósitos deste artigo.
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