Temos sido bombardeados, nos últimos dias, pelos veículos de
comunicação, por mais uma onda de denúncias envolvendo algumas
autoridades de Brasília. Essa é mais demonstração medonha de falta de
comprometimento com a coisa pública e desvios, não apenas de dinheiro,
mas, sobretudo de caráter, por parte de alguns dos nossos homens
públicos.
Em 1907, o grande jurista brasileiro Ruy Barbosa disse: “de tanto conviver e assistir a corrupção em meu país, sinto vergonha de ser honesto”. Esse desabafo tem mais de cem anos e a coisa continua a mesma por aqui.
A pergunta que se faz é: até quando? Até quando assistiremos
anestesiados a esses descalabros? Até quando “bandidos”, travestidos de
homens públicos, se sentirão à vontade para se apropriarem do erário sem
qualquer punição? Até quando teremos que abrir os jornais diários na
expectativa de qual será o próximo escândalo? Até quando…?
Martin Luther King, líder negro americano, certa vez disse: “O
que me preocupa não são os gritos dos corruptos, dos violentos, dos
desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o
silêncio dos bons”.
Que nós temos um sistema político contaminado pelo fisiologismo,
disso ninguém tem dúvida e, talvez seja essa a maior herança do modelo
colonizador implantado pelos portugueses desde 1500. Modelo esse
centrado na exploração de bens primários e num pseudo fortalecimento do
Estado a partir de uma elite que dele se apropria e deleita. Mas, daí a
adotarmos a inércia e a anomia como reposta, é algo inaceitável numa
nação que pretende ser protagonista no plano internacional.
A Presidenta Dilma, após ter que demitir alguns dos seus principais
ministros, além de outros membros do segundo escalão envolvidos em
corrupção, começou o seu segundo ano de governo com um saldo nada
positivo para quem, na visão de seu antecessor, herdou um país nos
“trilhos”. O que talvez o seu antecessor esqueceu de alertar é que os
vagões desse trem estavam repletos de “sovinas”, fisiologistas
profissionais que transformaram alguns ministérios em verdadeiros
escritórios do crime organizado, onde “chacais”, regados a caviar e
champanhe francês, definem qual será o próximo golpe. E tudo isso
patrocinado pelo povo que, anestesiados por cartões do Bolsa Família,
Minha Casa Minha vida e Prouni, são incapazes de se indignar.
O que está sendo divulgado em Brasília é apenas a ponta de um iceberg
que, se for explorado um pouco mais, levará a outros setores do governo
uma vez que o fisiologismo e a troca de “gentilezas” entre o público e o
privado tem sido regra na política brasileira.
Basta acessar o site Transparência Brasil e conferir as
empresas que patrocinaram as últimas candidaturas vencedoras. Esses
“favores” precisam ser pagos de alguma forma e a solução encontrada é o
superfaturamento de obras públicas, o direcionamento das concorrências e
a nomeação de pessoas com caráter duvidoso para cargos estratégicos.
Nesse samba do crioulo doido que se transformou o jogo político nacional, o principal lesado é o povo que arca com o alto custo desse fisiologismo.
Estradas esburacadas, educação pública sucateada, saúde pedindo
socorro e índices de violência urbana que superam países em guerra são o
saldo de anos de corrupção. O fisiologismo político é a síntese de tudo
de ruim que a política brasileira produziu nos últimos anos e, talvez,
seja o melhor exemplo de que quando o povo se abstém de sua obrigação
constitucional, que é fiscalizar as ações do governo, o resultado é o
caos.
Pense Nisso!!!